sexta-feira, 10 de junho de 2016

sendo





Januz Miralles 

estar aqui 
sendo a víscera do absurdo sem onde
apodrecendo feito fruto ferido 
na gengiva suja do chão

sendo nada mais que finito pungido punido
insólito sendo coisa

golem guardando no fosso do barro-
corpo

o sangue e o ethos da merda de tantos séculos
e os mitos despeçados

entre a cadeia existencial
e o heráclito rio contínuo do instante 

frag
men
to-
me


Carlos Orfeu






sexta-feira, 27 de maio de 2016

rugas


Alex Howitt



estrangeiro rosto
labirinto refletido
rio selvagem de rugas
silenciosa a mão
tateia devagar
crava os dedos
no rosto como
se fosse gritar
defronte ao espelho
se assombra e se
afoga no tempo
e angústia

Carlos Orfeu

quarta-feira, 25 de maio de 2016

sem




Alex Howitt





na ponta dos de
dos a saliva da su
a boca o tom do c
ais de seu corpo
o polén da sua
abelha entre
suas pernas
tudo isto ind
o para o cu en
gasgado da pia
o tempo sem ré
deas 



Carlos Orfeu 

























segunda-feira, 9 de maio de 2016

inatingível




Edward Hopper


essa falta que flagela
o sono 

é sede que se sorve
e nos condena 

ao duro desejo
de sofrer o deserto 

e o inatingível 
tato 





Carlos Orfeu

terça-feira, 3 de maio de 2016

anti-real





;
Fotografia: Julian Vassalo 



 escrevo mordendo-me
como o cão morde
o próprio rabo

no sexo vascular 
dos verbos na
pele-página

a linguagem
é meu abismo
onde construo

meu retrato anti-
real e aconteço


Carlos Orfeu

domingo, 17 de abril de 2016

às







Lucian Freud 



desordem violenta
todos os movimentos
estáticos às 6 da tarde
antenas de bombril do rádio
captam o exaspero do sangue
o magma dos gritos
tímpanos se desesperam
na microfonia do caos
não adianta ranger dentes
nos rosários e nem acender
labaredas de santos nos recantos
caninos das imundas calçadas
a desordem cavalga
na dor que não se deita
com aspirina nem droga nenhuma
se contorce atrás da jaula
cinética do olho e não
foge pelas glândulas

Carlos Orfeu

sexta-feira, 15 de abril de 2016

para fora


Giorgio Morandi


a mosca: voa
num instinto



fugaz 
e torpe 



para fora 
da inamovível 



eternidade da natureza morta 


Carlos Orfeu