domingo, 17 de abril de 2016

às







Lucian Freud 



desordem violenta
todos os movimentos
estáticos às 6 da tarde
antenas de bombril do rádio
captam o exaspero do sangue
o magma dos gritos
tímpanos se desesperam
na microfonia do caos
não adianta ranger dentes
nos rosários e nem acender
labaredas de santos nos recantos
caninos das imundas calçadas
a desordem cavalga
na dor que não se deita
com aspirina nem droga nenhuma
se contorce atrás da jaula
cinética do olho e não
foge pelas glândulas

Carlos Orfeu

sexta-feira, 15 de abril de 2016

para fora


Giorgio Morandi


a mosca: voa
num instinto



fugaz 
e torpe 



para fora 
da inamovível 



eternidade da natureza morta 


Carlos Orfeu 



sob


Alberto Giacometti 





pálpebras frias 
do abajur de carne 


envolvem 
o corpo


mínima
luz


sob o escuro 
pasto


do sonho que o corpo
rumina 



pela 
manhã


esquece!



Carlos Orfeu 






quarta-feira, 13 de abril de 2016

abril







Juan Gatti


não completo
ciclo de asas
na lâmina
de dois dígitos
sou bicho
que se des-
completa
em cada nova fenda
de abril e ex-
cede

Carlos Orfeu

cinza


Rain-  Bilyk Nazar




chove no imenso 
                         cinza


-espelhos-




com ânsia de chão
cortam


o
sol
do
sol
o



no 
asfalto 
turvo


viram espessos
                    olhos com o céu
                                            enjaulado


e
partido 
           em círculos 
                                concêntricos 





Carlos Orfeu 






quarta-feira, 6 de abril de 2016

Vincent



Autoportrait apporté à Auvers par l’artiste, Saint-Rémy de Provence, 1889, Musée d’Orsay, Paris.
Vincent van Gogh 




Vincent
mastiga 


tanto o
poente



da me-
lancolia 




que da
flama 



laranja 




brotam 
atemporais 



girassóis 





Carlos Orfeu 













abrigo




O cachorro- Alberto Giacometti 





 cães de águas
turvas em 
declínio

dos 
tristes
trópicos 
dos
olhos

na carto-
grafia 
da
face

fogem 
com os
focinhos 
feridos
de
dúvidas

atrás de abrigo
concha das mãos
ao cume
 vão
da 
indulgência

ou

tímpanos
que os
ouçam

e façam calar
vórtices de
 mágoas 


Carlos Orfeu











terça-feira, 5 de abril de 2016

vazio vivo



o homem que anda- Alberto  Giacometti




de gesso
a cruel
beleza

híbrida
estrutura
tátil

pelos
olhos 
nas 
pontas
dos
dedos 

o  congênito
grito do gesso

atado
no 
vazio
vivo
por
um
fio
de
silêncio 



Carlos Orfeu 

















sol singular




MuLHER E PÁSsARO À LUZ DA LUA-joan Miró




manhã branca
límpida e fresca 



na cálida brisa 
espiral 



dente-de-leão 
rodopia 



enquanto 
num
rigor



-geométrico-  


o passarinho 
constrói 



seu
sol 
singular 



Carlos Orfeu